por Ana Beatriz Demarchi Barel
Desde o princípio dos tempos, ultrapassando o mundo doméstico, lugar tradicional de circulação de seus saberes, as mulheres fizeram seu o universo público, humanizaram as relações de trabalho, integraram à sensibilidade o saber técnico.
De março a dezembro, venha ao encontro de uma mulher e seus saberes. Venha à casa de uma delas. Venha à Casa de Ema Klabin, para encontrar essas mulheres de talento. Converse com elas.
Apesar das adversidades as mulheres sempre souberam ocupar seus espaços. São poucas aquelas que enquanto produtoras de discurso conseguiram escapar à invisibilidade.
É sobretudo a partir do século XIX que a mulher conquista lugar para representar a si própria e ao mundo, segundo os seus próprios pontos de vista. Também será a partir do século XIX, que a literatura e as artes discutirão com a sociedade o papel da mulher. Uma escritura feminina expõe seus dilemas e desejos, dá voz a narradoras e personagens em tramas em que agora são protagonistas. O texto da carta, as páginas do jornal, as capas das revistas são suporte e veículo de suas angústias e reivindicações, de seus êxitos e de suas conquistas. As vanguardas artísticas expandem as visões do feminino, inovando os temas normalmente associados a ele, permitindo inusitadas associações formais e estéticas.
O programa ‘Mulher e Seus Saberes’ apresentará as múltiplas facetas dessas mulheres que, audaciosas, sempre mudaram e mudam o mundo, com seu desejo de ir além.
Propondo novos questionamentos, a Ciência busca saídas para situações práticas da vida: as mulheres ocupam hospitais e laboratórios, marcam sua presença no universo da saúde pública.
No século XX, o cinema abre um novo espaço para o feminino. Suas representações são transformadas, novos modelos são criados para as novas mulheres, os mitos da sétima arte se impõem. Divas, operárias, prostitutas, amantes, intelectuais, as possibilidades de papeis se multiplicam para o ser feminino e o cinema dá rapidez a essas novas imagens, projetadas para multidões.
A fotografia registra com a câmera o cotidiano feminino, revelando ao olhar do mundo espaços nunca antes retratados: o lar, as fábricas, a guerra, o campo, as ruas, as universidades, o poder, o submundo, o crime, os negócios. Por sua vez, o olhar das mulheres fotógrafas, autoras, amplia as representações imagéticas de outras mulheres, mostrando ao mundo sua força, seus combates, sua versatilidade, sua dor.
A mulher revela ao mundo a riqueza e a força de seus saberes.
Ana Beatriz Demarchi Barel tem pós-doutorado em história pela USP, é docente efetiva da Universidade Estadual de Goiás - UEG. Realizou residência em pesquisa na Biblioteca Brasiliana Mindlin da USP sobre relações França-Brasil no século XIX. Dentre seus temas de interesse estão a formação da identidade nacional brasileira, as influências francesas no Romantismo, relações entre literatura e história e literatura e pintura. Estudou história da arte na Ecole du Musée du Louvre. É doutora em literatura brasileira pela Université Paris III Sorbonne Nouvelle.
Ao longo deste ano desenvolveremos um programa especial de encontros que terá como tema central a mulher.
A Fundação Ema Klabin convidou a pesquisadora Ana Beatriz Demarchi Barel para fazer parte da curadoria desta programação.
por Rosi Ludwig