Mulheres e cartas
Um percurso ao longo de três séculos de literatura e pintura

As mulheres têm cada vez mais assumido um protagonismo nos mais variados setores da sociedade. Essa realidade, no entanto, não se revela se recuarmos no tempo.

No século XVII, por exemplo, a despeito de algumas mulheres que procuravam se firmar nos meios literários, a imagem de uma mulher “sábia”, que escrevesse, que pensasse, ainda soava como um paradoxo (é sintomático que esse fato tenha sido o mote de duas comédias de Molière: Les précieuses ridicules, de 1659, e Les femmes savantes, de 1672).

Assim, as mulheres restringiam-se a gêneros considerados “menores”, sobretudo a arte ou técnica de escrever cartas. É nesse contexto que surge uma das maiores expoentes desse gênero: Marie de Rabutin-Chantal, mais conhecida como Madame de Sévigné (1626-1696). Esse lugar relegado às mulheres não passou despercebido nas artes plásticas: são inúmeras as telas que representam mulheres, flagradas em sua intimidade, redigindo cartas. Tema caro a pintores ao longo dos séculos, a mulher que recebe ou escreve uma carta, ou ainda que a lê, confirma a destinação do gênero às mulheres.

Veremos neste encontro como esse espaço de circulação de ideias, aparentemente tão restrito, porém privilegiado, foi explorado por pintores e elevado à categoria de grande obra literária ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX.