Recifopaulistano

“Recifopaulistano”

*Imagem: Felipe Azevêdo

Texto do educador Felipe Azevedo que faz parte de uma série de textos desenvolvidos pelos educadores sobre as experiências de visita e os relatos colhidos com o público durante a programação Experimentando o Museu de agosto com o tema “Identidades Paulistanas: o que eu trago? o que eu levo?” Toda semana, um novo relato.

“Nasci-cresci” no Recife, por mais que hoje esteja em paz com meu “eu recifense” e sempre ter valorizado a cultura da minha cidade e do estado, durante toda a minha adolescência ansiava por lugares como a Galeria do Rock e pelos muitos shows de Heavy Metal que aconteciam com maior constância em terras paulistanas (ainda são mais frequentes por aqui). Meu primeiro contato com São Paulo foi no mínimo esquisito, deste apenas me recordo dos deslocamentos do ônibus de excursão pelas marginais e de não ter entendido muito bem como se constituía essa cidade, como eram suas ruas e onde estavam as coisas que tantas vezes vi em foto ou pela TV.

Em uma segunda visita a cidade foi desabrochando para mim, lembro-me de ter pego um ônibus da Barra Funda até a Ana Rosa, de circular por ruas da Zona Oeste e Centro, lembro do vento frio no rosto, do cheiro de cidade e da trilha sonora (Welcome to the show, entoava o Zak Stevens do Savatage, música que até hoje me traz reminiscências desse período). De 2007 até 2012 vim cerca de 10 vezes a São Paulo, para ver amigos, família, interesses amorosos e concertos musicais, a cidade foi tomando conta de mim e aos poucos me roubando.

Até que consenti em ser roubado de vez, me mudei para cá as 6:05 da manhã do dia 20 de fevereiro de 2013, com o intento de estudar na USP e no fundo, no fundo de não mais voltar a morar no Recife. Arrumei um emprego, me formei, saí da casa da minha tia, montei um lar com amigos, me fiz dono do meu tempo e das minhas escolhas. Me “adultei” nessa cidade e por mais que não seja uma cidade nova para mim (afinal nossa relação já completou 12 anos) ainda não consigo parar de me surpreender com ela.

Esse é um registro breve de minha relação com São Paulo, nesse post também seguem os relatos dos visitantes do Experimentando o Museu “Vozes dos Livros – Identidades Paulistanas: O que eu trago? O que eu levo? ” que aconteceu no dia 10 de agosto. Curiosamente os dois relatos recolhidos foram de pessoas que também tem uma trajetória próxima a minha, de migrar para essa cidade com intuito de estudar e/ou trabalhar, o relato deles me fez escrever o meu e revisitar a minha história enquanto “recifopaulistano”.

→ Confira também o primeiro texto, que abre a série de depoimentos acerca da exposição Vozes dos Livros, por Cristiane Alves.

+ do blog:

Entrevista com Geovana

Nos bastidores do museu

Entrevista com Fanta Konatê

Felipe Azevêdo

É educador da Fundação Ema Klabin desde 2013 e graduado em História pela Universidade de São Paulo. Fascinado por mobiliário, arquitetura e por observar a cidade (de preferência andando a pé ou de transporte público).