Miná Klabin

Miná Klabin | Narrativas da Coleção

→ Ecos do Modernismo – Mulheres na Coleção Ema Klabin

*Imagem: Miná Klabin Warschavchik. Arquivo e Biblioteca do Museu Lasar Segall

A série de textos “Ecos do Modernismo – Mulheres na Coleção Ema Klabin” traz como enfoque o papel determinante das mulheres para o fomento das artes na cidade de São Paulo.

Ema Klabin, Jenny Klabin Segall, Miná Klabin Warchavchik e Yolanda Penteado, são algumas das mulheres que atuaram como mecenas e articuladoras culturais, ajudando a disseminar os ideais modernistas e fazendo-os reverberar para além da Semana de Arte Moderna de 1922.

A cada semana, você confere um texto sobre uma personagem marcante na história do Modernismo na cidade de São Paulo.

Miná Klabin Warchavchik (1896-1969)  

Por Rosi Ludwig

Na cidade de São Paulo, em 1896, nascia Miná, a primeira filha do casal recém-chegado da Lituânia, Maurício Freeman Klabin e Bertha Osband. Assim como as irmãs mais novas, Jenny e Luiza, e o caçula Emannuel, Miná teve uma educação dividida entre a Europa e o Brasil, aos moldes suíços e alemães, fato que lhe rendeu uma formação ampla, diversificada e muito próxima ao campo da arte.

O pai de Miná, Maurício, em 1899, fundou junto com os irmãos recém-chegados da Lituânia a Klabin Irmãos & Cia., inaugurando um período de ascensão financeira, que permitiu que, em 1903, a família adquirisse vários lotes de terras na capital paulista. Dentre esses, se destaca o que hoje conhecemos como Chácara Klabin. 

Você sabia que Ema Klabin era prima de Miná e, inclusive, teve uma irmã com este mesmo nome? Era costume da família repetir os nomes de tempos em tempos entre as novas gerações. Assim, após 15 anos do nascimento de Miná, chega ao mundo uma segunda Mina Klabin que, desta vez, a irmã mais nova de Ema. 

Miná, apesar de não ter o reconhecimento merecido e poucos registros sobre sua obra, foi uma das pioneiras do paisagismo brasileiro. Alinhada ao pensamento modernista, seus jardins estavam carregados de elementos presentes nas pinturas, como os cactos de Tarsila do Amaral e na literatura, buscando uma brasilidade ainda não revelada.

Sua história se confunde com a história da arte e arquitetura modernas no Brasil, sobretudo em São Paulo, cerne do pensamento modernista, onde se buscava novas formas de expressão, trazendo para arte e para arquitetura um novo olhar, tanto para os modos do fazer, como para os temas abordados. Miná estava presente nessa efervescência paulistana e, mesmo assim, não conseguimos encontrar registros sobre seus trabalhos. Esta dificuldade foi expressa no trecho abaixo, presente no artigo publicado em 2003 pelo pesquisador Euler Sandeville Jr, que fala sobre sua dissertação de mestrado, “A herança da paisagem”, de 1993, que contém um estudo sobre a paisagista: 

“Quando da realização dos estudos sobre os jardins de Mina, no âmbito de meu Mestrado (cerca de 1989, concluído em 1993, em capítulo com o título deste artigo) visando contribuir para uma construção de valores no trato dos espaços urbanos da metrópole paulistana, deparei com grandes dificuldades, tendo que me valer basicamente do material publicado por FERRAZ 1965, estabelecendo uma reflexão a partir dessa base deveras exígua e com apoio em fontes que indiretamente esclareciam um ou outro aspecto.” 

Em 1927, Miná tornou-se Miná Klabin Warchavchik ao se casar com o arquiteto Gregori Warchavchik, que chegara ao Brasil em 1923, vindo da Ucrânia. Nesse mesmo ano, o arquiteto projeta sua casa e, em 1928, coloca em execução o que seria o principal projeto de sua vida, graças a um terreno cedido pela família de Miná. 

Essa casa que hoje está aberta à visitação, chamada de A Casa Modernista, localizada na Rua Santa Cruz, é considerada a primeira obra de arquitetura moderna implantada no Brasil. Na construção de sua residência, Miná realizou seu primeiro projeto paisagístico passando a utilizar, de forma pioneira, plantas nativas tropicais que conversavam diretamente com a arquitetura de Gregori Warchavchik, contribuindo, dessa forma, para as novas concepções, pensamentos discursivos e formais ligados ao imaginário modernista que abrangeram a arquitetura, a música, literatura, artes plásticas e, agora, o paisagismo, buscando traçar e valorizar a identidade nacional.  

Esse novo olhar sobre o paisagismo brasileiro, provocou uma ruptura com os padrões europeus em voga no período, principalmente em São Paulo. Gregori e Miná estavam alinhados ao debate de vanguarda da época. Sua residência era um polo de encontros da elite modernista e foi na casa da rua Santa Cruz, inclusive, que se fundou a SPAM (Sociedade Pró-Arte Moderna) da qual Miná foi a primeira diretora. 

Miná realizou outros projetos paisagísticos que estavam sempre atrelados aos projetos arquitetônicos do marido, como é o caso da casa, hoje também museu, construída para sua irmã Jenny Klabin e seu marido, o pintor Lasar Segall. Infelizmente com as adaptações para a constituição do Museu Lasar Segall o jardim de Mina não foi preservado.  

Um dos elementos que ficaram marcados em seus projetos foi a ampla utilização de cactos. A forma dessa planta combinou perfeitamente com as formas simples e retas da construção arquitetônica de Gregori Warchavchik, além de ser um repertório da pintura moderna nacional. Outras espécies utilizadas nos projetos dos jardins de Miná são as dracenas, pinheiros, agaves e guapuruvus, sendo esta última uma árvore tida como “caipira”, nunca tendo recebido as honras de participar de um jardim urbano. 

Algumas dessas espécies ainda guardam morada em sua residência, a “Casa Modernista” que está aberta à visitação. Entrar em contato com sua obra poderá manter viva não apenas a sua presença como também um importante momento de nossa história. 

Colaboração: Lethicia Gomes

Nossos sinceros agradecimentos à senhora Mônica Aliseris, bibliotecária da Biblioteca Jenny Klabin Segall que concedeu um relato oral sobre Jenny Klabin Segall,  Miná Klabin Warchavchik e a criação do Museu Lasar Segall.

Confira a agenda de publicação dos posts da série Ecos do Modernismo:

  1. Introdução + Ema Klabin (14/4)
  2. Jenny Klabin Segal (21/4)
  3. Miná Klabin Warchachik (28/4)
  4. Yolanda Penteado (5/5)


Bibliografia

ALISERIS, Mônica. Relato concedido a equipe da Casa Museu Ema Klabin. fev. 2022. São Paulo. O relato na íntegra encontra-se gravado nos arquivos da Casa Museu Ema Klabin. 

DAUDÉN, Julia. Os jardins de Mina Klabin Warchavchik: Modernidade pública e privada. Disponível  em: https://www.archdaily.com.br/br/918710/os-jardins-de-mina-klabin-warchavchik-modernidade publica-e-privada. Acesso em 06 set. 2021

LIRA, José. Artigo: A Casa Modernista da Rua Santa Cruz. Disponível em:  

Https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/gregori-warchavchik/obras/. Acesso em 06 set. 2021 

MCSP/Casa Modernista. Disponível em: https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/sobre mcsp/casa-modernista/. Acesso em 06 set. 2021 

PERECIN, Tatiana; LIRA, José Tavares Correia de (Orientador). Azaléias e mandacarus: Mina Klabin  Warchavchik, paisagismo e modernismo no Brasil. São Paulo, Tese de Doutorado, 2003. 

→ O primeiro texto da série é sobre Ema Klabin e você pode conferir clicando aqui.

→ Jenny Segall é a protagonista do segundo texto da série,  leia aqui.

+ do blog:

#CasaMuseuConversas – Entrevista com Lucas Bonetti

Como contribuo com a campanha Dez receitas de Ema Klabin?

Yolanda Penteado – Narrativas da Coleção

Rosi Ludwig

Rosi Ludwig é educadora do Educativo Ema Klabin, graduada em Educação Artística e pós graduada em Arte na Educação: Teoria e Prática. Atua em educativos de museus desde 2006. Acredita na magia do encontro, na potência da escuta e nas diversas relações de conhecimento.