Cecília Moita

#CasaMuseuConversas
Entrevista com Cecília Moita

*Imagem: Cecília Moita no piano Érard, de 1912, que pertenceu a Ema Klabin. Fotografia: Casa Museu Ema Klabin.

Cecília Moita, que atua em uma das principais orquestras do país, a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, concedeu uma entrevista para a Casa Museu Ema Klabin. A pianista fala do início de sua carreira, suas influências e os desafios da profissão.

A musicista, que por diversas vezes mostrou seu talento nos eventos culturais da casa museu, ainda relata como foi interpretar no raro piano Érard de 1912, que compõe a coleção de Ema Klabin. Confira a entrevista.

[CRISTINA AGUILERA] Onde você nasceu? Como foi sua formação e trajetória até aqui?

[CECÍLIA MOITA] Nasci em São Paulo, comecei meus estudos aos 4 anos com a professora Haydée Dias Spanopoulos. Algum tempo depois, ela montou o Conservatório onde concluí a primeira parte de meus estudos. Cursei, posteriormente, na Unesp, a Licenciatura em Educação Artística, com habilitação em Música, sempre seguindo em paralelo meus estudos de piano erudito, piano popular e órgão. Desde 1993 recebo orientações da Profa. Heloísa Zani.
Iniciei minha atuação profissional aos 18 anos em grupos de câmara, coros e eventos. Em 1997, passei a integrar orquestras e, em 2005, ingressei na Orquestra Sinfônica Municipal, onde atuo até hoje como pianista de orquestra. Também sigo um trabalho que considero importante de pianista colaboradora, acompanhando instrumentistas solistas.

[CA] Você iniciou seus estudos de piano muito cedo, aos 4 anos. Quem a incentivou? Ter contato com a música desde a primeira infância foi importante para a sua carreira?

[CM] Meu pai sempre estudou música por hobby, minha mãe era uma apaixonada por música, porém nunca teve condições de estudar formalmente. Eles foram meus maiores incentivadores. E, sem dúvida, iniciar cedo o contato com a música foi primordial para minha vivência e para a inserção da música em minha vida.

[CA] Quais são suas referências musicais?

[CM] Acho que os grandes compositores (Bach, Mozart, Beethoven, Brahms, entre outros) são primordiais para a formação de qualquer músico. Dentre os compositores brasileiros, gosto muito de Francisco Mignone, Edmundo Villani-Côrtes e Heitor Villa Lobos. Desde pequena, minha 1ª professora nos mostrava muitas gravações de Arthur Rubinstein, Vladimir Horowitz e outros pianistas consagrados. Adoro as interpretações de Nelson Freire, Paul Lewis e Daniel Barenboim. Mas, como também tive uma formação popular, acho fundamental a audição da “boa música popular”, como Chico Buarque, Tom Jobim, Edu Lobo, César Camargo Mariano, dentre outros.

Dentro da orquestra, precisamos estar muito atentos aos colegas, ao maestro, e nunca perder de vista que o piano é “um dos instrumentos da orquestra”, como um naipe, como o naipe de violinos, violas, flautas, trompetes, etc. O importante é o resultado final, o som de cada instrumento estar inserido dentro de um todo.

Cecília Moita

[CA] Há quanto tempo você atua na Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo? Quais são os desafios em compor uma das principais orquestras do país?

[CM] Atuo como pianista da OSM desde 2005. Dentro da orquestra os desafios são muito diferentes dos desafios de um pianista solista. Dentro da orquestra, precisamos estar muito atentos aos colegas, ao maestro, e nunca perder de vista que o piano é “um dos instrumentos da orquestra”, como um naipe, como o naipe de violinos, violas, flautas, trompetes, etc. O importante é o resultado final, o som de cada instrumento estar inserido dentro de um todo.

[CA] Você também trabalha com educação musical? É preciso ter talento para ser um bom pianista ou a vontade de aprender e desenvolver uma habilidade é mais importante?

[CM] Não dou aulas de piano, porém, dentro do meu trabalho de pianista colaboradora, esse trabalho não deixa de ser uma educação musical. Na minha opinião, para você desenvolver uma habilidade, você precisa, acima de tudo, de persistência, determinação, boa orientação e muito foco. Para mim, isso está acima do “talento”.

[CA] Quais os desafios para o estudo do piano na contemporaneidade?

[CM] Para mim, o grande desafio é direcionar o estudo do piano para atividades nas quais o pianista possa se inserir dentro do mercado de trabalho (como pianista acompanhador, de coro, de ballets), e não só dentro do piano solo.

[CA] Como tem sido a dinâmica de estudos, trabalho e ensaios ao longo da pandemia?

[CM] Tenho aproveitado muito o tempo sem poder sair de casa para aprofundar técnica e repertório, estudando obras que, no dia a dia, não tenho tempo de estudar, como sonatas de Beethoven, por exemplo. Em 2020, aproveitei os tempos de pandemia para lançar um projeto chamado “Solistas Digitais” para que estudantes e profissionais de instrumentos de orquestra tivessem bases de concertos à sua disposição para estudarem seus próprios concertos.
Dentro da orquestra, fizemos muitas gravações on-line. Os ensaios presenciais da orquestra só começaram a acontecer em outubro de 2020, e de março de 2021 para cá foram novamente interrompidos pela situação pandêmica. Iniciei também um mestrado profissional em música na UFBA que está acontecendo on-line.

[CA] Por ocasião do lançamento do 2º volume dos Cadernos da Casa-Museu Ema Klabin: Identidades Paulistanas, em dezembro de 2020, você participou de um recital transmitido ao vivo diretamente do museu. Como foi interpretar um repertório dedicado ao tema Identidades Paulistanas e ter os comentários de Emmanuele Baldini?

[CM] Foi um grande aprendizado. Emmanuele Baldini é um músico incrível e aprendi muito com suas pesquisas. Foi um trabalho em conjunto entre eu, a Fundação e o Baldini.

[CA] Como foi a experiência de interpretar no piano Érard, de 1912?

[CM] Tocar no Piano Érard é sempre desafiador, principalmente pelo fato de estudar em um piano “mais moderno” do que o piano em questão. Existe uma diferença de toque, de sonoridade, de pedalização, e é muito importante tocar um pouco no piano Érard antes do concerto, para poder “virar a chavinha” e tocar com domínio do instrumento.

Clique aqui para assistir ao recital de Cecília Moita, que executou um repertório dedicado ao tema Identidades Paulistanas no belíssimo piano Érard, de 1912, que pertenceu a Ema Klabin. A apresentação e comentários são de Emmanuele Baldini.

+ do blog:

Entrevista com Geovana

Nos bastidores do museu

Entrevista com Fanta Konatê

Cristina Aguilera

Formada em jornalismo e especializada em Mídias em Educação pela Universidade de São Paulo. Atua há mais de quinze anos na área de Comunicação. É assessora de imprensa da Casa-Museu Ema Klabin e diretora da Mídia Brasil Comunicação Integrada.

Destaques