fragmentos e encontros

Tramas Culturais
Fragmentos e encontros na dança cênica paulistana

Tramas Culturais | Fragmentos e encontros na dança cênica paulistana

Simone Alcântara

Início quinta-feira, 07/11. 4 encontros: 07/11, 21/11, 28/11 e 05/12 das 19h30 às 21h30

Gratuito

50 vagas por ordem de inscrição

*Imagem: Felipe Teixeira – Jurua/2018 – Cia. Oito Nova Dança

A proposta de Fragmentos e encontros na dança paulistana é refletir em quatro encontros sobre as expressões culturais e artísticas reconhecidas ou não como parte de um grupo de convívio no mesmo espaço urbano hoje.

Desde a fundação da cidade de São Paulo, a catequização dos jesuítas e o interesse dos portugueses pela mão de obra para a busca das riquezas brasileiras, tornaram os povos indígenas escravos em seu próprio território. Esse perverso controle colonizador pelo europeu branco sobre os povos nativos já havia chegado no Brasil a bordo das embarcações portuguesas. Eram lotadas de africanos arrancados violentamente de suas terras, em condições desumanas, que levaram muitos deles à morte antes mesmo de chegarem ao destino. Invadidos ou extirpados de seus espaços sagrados, a luta dos povos indígenas e dos povos africanos escravizados está presente até hoje para manterem vivas a ancestralidade e a religiosidade em seus corpos. As manifestações culturais de um povo mostram a sua mais pura natureza e as mantêm ou as recriam com o desejo de pertencimento de um coletivo. Mas o convívio de um novo espaço e tempo imposto, pelas atrocidades colonialistas que negou a existência dos ameríndios e dos afro-brasileiros segue pela história, excluindo-os socialmente.

Para o poder dominante, a expressão popular é uma cultura pobre, de caráter selvagem e, portanto, inaceitável pelo arrebatamento da liberdade de mostrar a beleza e a força de seus ancestrais. A partir da galopante urbanização e crescimento da cidade de São Paulo gerou uma nova configuração sociocultural. A crise da mão de obra escrava na zona rural e o declínio da mineração provocou a massiva migração de mão de obra para São Paulo devido ao mercado de exportação do café. Além disso, o processo de industrialização na cidade atraiu a imigração expressiva de estrangeiros na condição de subproletariados e São Paulo passou a abrigar mais de meio milhão de habitantes. Com o aumento populacional e diferentes identidades habitando o mesmo espaço, a cidade teve um ganho cultural nas diferentes camadas sociais.

Ao cantarem e dançarem as suas histórias de ritos e de afetos, nos contextos de transformações de São Paulo, os povos indígenas e os afrodescendentes mantêm resistentemente a luta contra o preconceito racial e social explicitado na indiferença de sua existência. Os bairros mais periféricos da cidade revelaram a nova reestruturação da sociedade paulistana com os encontros musicais e dançantes de trabalhadores negros em sindicatos, rodas de pagodes, bailes anarquistas em associações, festas de rua típicas dos imigrantes europeus, festas juninas vindas das lavouras, entre outras atividades que reuniam classes mais baixas e de setores médios, como comerciantes, profissionais autônomos e artistas. Além disso, a abertura de teatros nas regiões mais centrais da cidade marcou a presença de novos públicos em seu diversificado ambiente cultural. Em especial no Theatro Municipal de São Paulo que apresentava montagens líricas e balés europeus para e elite cafeeira, passou a ser frequentado também pelos novos industriais.

Nesse contexto, observa-se o movimento de criações populares de dança de várias culturas em convívio com as criações cênicas reservadas aos espaços fechados, mais intimistas e mais caros. As coreografias do balé clássico eram de repertório romântico, de contos de fadas, influenciadas pelas produções europeias. Mas qual era o imaginário sobre as danças e manifestações ameríndias e afro-brasileiras na cena clássica? E de que forma eram colocadas sobre as sapatilhas de pontas se a invisibilidade desconcertante colonizadora os excluía da convivência social por várias décadas? A dança moderna da brasileira Chinita Ullman (1904-1977) e os balés modernos do Ballet IV Centenário (1953-1955) levaram aos palcos, coreografias inspiradas no Movimento Modernista de São Paulo. Poderiam ser chamadas de “danças antropofágicas”?

Durante a ditadura militar (1964-1985), algumas companhias paulistanas de dança colocaram em cena a questão dos povos indígenas e a presença do negro afrodescendente, entre outros temas recorrentes. Atualmente, a dança contemporânea em São Paulo oferece uma variedade de trabalhos solos, pequenos grupos e coletivos, de resistência; de pesquisas sobre os povos nativos indígenas e sobre as matrizes africanas da dança afro-brasileira; do corpo político, entre outros questionamentos. São apresentações cênicas com diferentes olhares políticos e poéticos.

Os encontros serão sempre nas quintas-feiras, às 19h30 com a duração de no máximo 2h e um intervalo de 20 minutos. Seguem os temas de cada encontro:

  • 1º encontro (07/11): Os diferentes olhares sobre as coreografias cênicas paulistanas
    – A dança moderna de Chinita Ullman e de Kitty Bodenhein e o Movimento Modernista nos anos de 1930.
    – A representação dos povos indígenas e dos povos afrodescendentes nas coreografias do balé clássico dos anos de 1940.
    – Ballet IV Centenário (1953-1955): uma dança “antropofágica”?
  • 2º encontro (21/11): O significado do canto nas danças afro-brasileiras na cultura paulistana Um convite ao canto de algumas manifestações afro-brasileiras comentadas pela professora e musicista Lígia Rosa. Convidada: Lígia Rosa – Produtora e Coordenadora de Cursos da Associação Cachuera. Educadora Musical com Licenciatura em Música, Cantora e Pianista. Experiência em Cultura Popular de Tradição em Educação com as linguagens, Jongo de Tamandaré (SP), Jongo da Serrinha (RJ), Congadas (MG), Bumba Meu Boi (MA) e Festa do Divino (MA). Especialização no Sistema Orff (Áustria – Salzburg) e no Sistema Kodally (Hungria).
  • 3º encontro (28/11): Companhias paulistanas: criações e reflexões
    – “Kuarup ou a questão do índio” do Ballet Stagium (1971): por que marcou a história da dança brasileira?
    – Cisne Negro Cia. de Dança (1977): o reconhecimento da cultura afro-brasileira no palco.
  • 4º encontro (05/12): JURUÁ? Uma perspectiva da dança contemporânea Juruá somos nós, que jamais seremos Guarani, mas também não mais os mesmos após os encontros nas aldeias, na cidade e em nossos corpos. Cia. Oito Nova Dança. Convidada: Lu Favoreto. Atua como bailarina, coreógrafa, preparadora corporal para as artes cênicas e professora de dança. Tem como elemento primordial de investigação a relação entre movimento fundamental, sua vivência cotidiana e a comunicação na cena. É diretora artística do Estúdio e da Cia. Oito Nova Dança.
Público-alvo

Público geral, especialistas, professoras (es), dançarinas (os), pesquisadoras (es)

Simone Alcântara

É Pedagoga e Doutora em História Social, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Foi membro de comissões, como Lei Mendonça, Fundação Vitae, PROAC Circulação de Dança, Associação de Críticos de Arte (APCA), Prêmio Denilto Gomes, Editais de Fomento à Dança pela SMC-SP e jurada do Movimentos da Dança SESC e do Mapa Cultural Paulista. Atuou como Oficial de Projeto pela UNESCO-SP; formadora de educadores pelo Instituto Avisa Lá e do Museu da Pessoa. Publicou artigos como, São Paulo Dança! (2002), A intensidade do vermelho (2018), entre outros. Atualmente é consultora de dança e movimento e docente convidada do Curso de Pós-Graduação em Dança e Consciência Corporal pela ESTÁCIO, FMU e USCS em São Paulo e outros estados.

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