Tema anual: Memória

A memória está intimamente ligada à origem do museu: na acepção grega antiga, o museu é a casa das musas, inspiradoras da criatividade humana e filhas de Mnemósine (memória) e Zeus (poder). Apesar de ser um termo frequentemente utilizado em nossas atividades, pouco refletimos sobre os sentidos e implicações da memória.

Muitas vezes nos referimos à memória como algo que reside no passado, que precisa ser preservado e resgatado, mas, na verdade, a memória é fluida e mutável, um processo constante, realizado no presente, por meio do qual criamos e recriamos narrativas que fundamentam nossa identidade individual e coletiva, e nos orientam em direção ao futuro. Esta ação está no centro da atuação dos museus.

A memória pode ser fruto de uma tradição, criando uma imagem de um passado idealizado passível de resgate, como na pintura de Claude Lorrain que ilustra este texto: o pintor inventava paisagens que remetiam a um mundo clássico que, na realidade, nunca existiu. Mas a memória pode também ser inovadora, trazendo elementos negligenciados ou ocultados, em busca de uma perspectiva mais abrangente e inclusiva que reconheça os desafios que enfrentamos e aponte novos caminhos para o futuro.  

Tomando como ponto de partida o extenso arquivo de Ema Klabin, nossa programação de 2025 será dedicada ao tema Memória, resgatando sua trajetória de vida e refletindo sobre a formação de sua identidade, revelada também pelo patrimônio material e imaterial que a casa museu preserva. Essa temática será especialmente voltada ao ambiente doméstico, às memórias de infância e familiares, aos hábitos e costumes de seu tempo, em seus aspectos individuais e coletivos. O trabalho doméstico também terá especial destaque, revelando sua importância no dia a dia da casa quando foi habitada. Também realizaremos uma reflexão sobre a memória do território ocupado pela cidade de São Paulo, apresentando elementos de seu passado pré-colonial.