Negritude e Literatura brasileira

Negritude e literatura brasileira

→ Da visão etnográfica ao ubuntu

Negritude e literatura brasileira: da visão etnográfica ao ubuntu

Oluwa-Seyi Salles Bento

Quinta-feira, 16/08/2018 das 19:30 às 21:30. Outros encontros: 30/08, 20/09 e 27/09

Gratuito

*Imagem: Casa de Exú, Carybé – Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia, Carybé, 1980, São Paulo, pág. 52 (Acervo Fundação Ema Klabin)

Este curso pretende analisar o percurso de construção de personagens negros na literatura brasileira, pontuando a importância da autodeterminação e da presença de personagens negros que não sejam representações estereotipadas e contraproducentes.

A literatura brasileira, desde o século XVII, traz em seu bojo as marcas de uma sociedade de base escravocrata, que elege a branquitude como qualidade ideal e relega os negros e mestiços à condição de subalternos, marginais ou ainda ausentes das páginas das obras canônicas. Esta literatura, executada por escritores que não possuíam qualquer compromisso com uma representação positiva da negritude, parte de uma premissa etnográfica, a qual enxerga o negro como essencialmente outro .

No entanto, a condição de objeto desses sujeitos negros é problematizada e revertida quando mãos negras “tomam a pena” e demonstram-se engajadas no processo de denunciar o racismo, construir uma contranarrativa acerca dos personagens negros na literatura e demarcar o espaço social do negro enquanto escritor.

  • 16/08: Personagem literário – expressão de intencionalidade do autor, sua visão de mundo e marcas de seu tempo.
    O personagem, na literatura, por vezes, é o elemento considerado mais importante da obra, o qual gera empatia ou repulsa por parte dos leitores, mas ignora-se que sua construção é fruto de escolhas e concepções de mundo de seu autor.
    ➔ Dinâmica: Personagens memoráveis da Literatura brasileira.
  • 30/08: Ausências, invisibilidades, marginalizações e presenças contraproducentes – representação negativa de personagens negros na literatura brasileira.
    Leitura e análise de obras de Gregório de Matos, Aluísio de Azevedo, Monteiro Lobato, Helena Morley, Mário de Andrade, entre outros.
    ➔ Exibição de episódio do programa de TV Nação, da TVE: “O Negro na Literatura” 25’41
  • 20/09: Olhar, voz e mãos negras no centro – representação positiva de personagens negros na literatura brasileira.
    Leitura e análise de obras de Maria Firmina dos Reis, Lima Barreto, Geni Guimarães, Ney Lopes, Ana Maria Gonçalves, entre outros.
    ➔ Exibição de 2 episódios da série Letras Pretas, do youtube : : “Literatura como direitona construção da da identidade negra” 11’04 e “Literatura negra – personagens que transbordam as barreiras do racismo” 12’55.
  • 27/09: “A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum!” – òrìsà na literatura brasileira e o (des)comprometimento de representação positiva.
    Leitura e análise comparativa de obras de Conceição Evaristo e Jorge Amado que possuem personagens relacionados ao candomblé (adeptos, simpáticos e divindades da religião).
    ➔ Exibição de episódio do programa de TV Nação, da TVE: “Intolerância Religiosa – Programa 1” 23’51 e “Intolerância Religiosa – Programa 2” 27’48.
Oluwa-Seyi Salles Bento

Oluwa-Seyi Salles Bento é graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (2016) e professora de Língua portuguesa no Cursinho Popular Florestan Fernandes, em São Paulo. Realizou pesquisa de Iniciação Científica, no Centro de Estudo Rurais e Urbanos - CERU/ USP - (bolsista CNPq) sobre as relações educacionais e familiares entre Brasil e países africanos como Angola, Congo e Moçambique. Atualmente, cursa mestrado (bolsista CAPES) na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua portuguesa também pela Universidade de São Paulo. Com pesquisa intitulada “Orisà e literatura afro-brasileira: a esteticização dos arquétipos dos deuses yorùbá nos contos de Conceição Evaristo”, Oluwa-Seyi analisa como a agência autoral negra, à luz da ética africana Ubuntu (cuja tradução é “eu sou porque nós somos”), busca presentificar na literatura uma identidade favorável dos adeptos, simpáticos e divindades do Candomblé, enquanto que a literatura produzida por autores não (declaradamente) negros tende a não assumir um compromisso de representação positiva. Oluwa-Seyi também realiza formações de professores, com um grupo de colegas docentes da mesma área, sobre educação para as relações étnico-raciais, pontuando a necessidade da presença de temas atinentes às culturas africanas e afro-brasileira e da diáspora negra em geral na sala de aula.