Minicurso: Agência e o protagonismo negro no Modernismo Brasileiro

Minicurso
Agência e o protagonismo negro no Modernismo Brasileiro

Minicurso: Agência e o protagonismo negro no Modernismo Brasileiro

Matheus Gato, Val Souza e Mirella Maria

3 encontros às quartas feiras
16, 23 e 30 de março, das 19h às 21h

Gratuito ou contribuição voluntária de qualquer valor

350 vagas

Plataforma Zoom

Com intérprete de Libras

Imagem: Retrato Feminino, Lasar Segall, 1927

Este curso analisará o protagonismo das pessoas negras, bem como o papel das representações difundidas por artistas do movimento modernista com ênfase nos critérios de raça, gênero e classe.

Afinal, quais são as ficções que cultuamos sobre a participação das pessoas negras no modernismo?

O centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 reacendeu diversos debates sobre os significados e os efeitos de moderno e modernismo no Brasil. Algumas discussões incidiram sobre a construção do imaginário social que se consolidou no país, apoiados na seleção e nos apagamentos sistemáticos de outros agentes e das questões raciais.

Em três encontros, contaremos com os pesquisadores Matheus Gato, Val Souza e Mirella Maria com o objetivo de destacar as contribuições intelectuais e artísticas de figuras como Manuel Querino, Astolfo Marques, Lima Barreto, Nascimento Moraes, Hemetério dos Santos, Arthur Timóteo e outros. Além disso, trataremos de examinar as representações raciais entre os artistas modernistas do acervo da Coleção Ema Klabin, como Di Cavalcanti, Lasar Segall, entre outros.

1º Encontro – Matheus Gato de Jesus
Intelectuais e Artistas Negros enquanto “pré-modernos” (1900-1920): classificação literária e desclassificação intelectual

Um dos efeitos políticos do movimento modernista brasileiro e sua recepção pela crítica especializada foi organizar, a partir do êxito e hegemonia de seus padrões estéticos, a história da arte e da literatura brasileira. Em especial, os autores que produziram no interregno em entre a proclamação da República (1889) e a Semana de Arte Moderna (1922), e cujas obras continham elementos formalmente inovadores e refletiam sobre as consequências políticas da modernização do país, como as reformas urbanas e a política sanitária, o significado das ideias de “povo” e “nação” num país que acabara de abolir a escravidão, a imigração europeia, os conflitos de classe, as condições sociais dos descentes de africanos, dentre outras questões, foram classificadas como “pré-modernistas”.

Um conjunto importante de escritores e artistas negros, como Manuel Querino, Astolfo Marques, Lima Barreto, Nascimento Moraes, Hemetério dos Santos e Arthur Timóteo, foi interpretado por essa via. Embora a crítica a essa forma de classificação venha se estabelecendo no debate brasileiro desde os anos 1980, permanece a dificuldade de categorizá-los e, sobretudo, de demover o efeito de desclassificação intelectual operado pelas formas tradicionais de organização do cânone literário. Nesta apresentação, será abordado o modo como alguns desses autores negros refletiram com profundidade sobre um dos problemas que iria ocupar os autores modernistas, em especial, a relação entre as práticas culturais da gente negra e a identidade nacional, bem como debater o uso da categoria “nativismo negro” como forma de interpretação de suas práticas artísticas quando tomadas em conjunto.

2° encontro: Val Souza
Lembrança brasileira: uma seleção pitoresca de imagens

Podemos identificar semelhanças em imagens de épocas e contextos radicalmente diferentes, como gravuras do século 18 e retratos de mídia social? A partir da obra: Lembrança brasileira: uma seleção pitoresca de imagens (2021), curta-metragem que explora a dinâmica crítica de representações difundidas por artistas viajantes, especialmente aquelas relativas a corpos de mulheres negras, em correspondência com imagens produzidas por artistas modernistas exploraremos as diferentes possibilidades de entendimento intersubjetivo das iconografias e a projeção dessas imagens, visto que elas povoam o imaginário social por meio de sua contínua repetição.

3° Encontro – Mirella Maria
Uma casa, um museu, uma coleção para observar e refletir juntes: entre Modernismos, Educação e Visualidades na Coleção Ema Klabin

No ano em que a Semana de Arte Moderna no Brasil completa 100 anos de sua realização, é importante pontuarmos os caminhos percorridos nas produções artísticas e seus alinhamentos à ruptura e às estruturas que tangem o pensamento colonial. Aqui fazemos um convite a essas reflexões, (re)conhecendo e (re)observando o espaço da Casa Museu Ema Klabin, contribuindo com pontos de vista ampliados para a curadoria e seu acervo modernista.

Além desse horizonte, criaremos relações com os artistas expostos na casa, tanto do período modernista quanto de outras obras dispostas próximas, estabelecendo possíveis diálogos e discussões sobre caminhos do olhar que Ema Klabin também construiu pela casa e que compõem os pensamentos de uma época que podem reverberar no contemporâneo. O encontro será uma possibilidade de expandirmos de maneira transdisciplinar debates na educação, nas artes visuais e humanidades.

Público-alvo

Estudantes, gestores, professores, pesquisadores, curadores, artistas, museólogos, interessados em história da arte, sociologia, história social, questões raciais, artes visuais e literatura.

Matheus Gato

Matheus Gato é professor do Departamento de Sociologia da Unicamp. É pesquisador do núcleo Afro/CEBRAP e coordenador do Bitita: Núcleo de Estudos Carolina de Jesus (IFCH-UNICAMP). Foi pesquisador visitante na Princeton University e na Harvard University. É autor de O Massacre dos Libertos: sobre raça e república no Brasil (2020) e organizador do livro O Treze de Maio e outras estórias do pós-abolição (2021), que reúne contos de Astolfo Marques.

Val Souza

Val Souza é paulista, atualmente vive entre São Paulo e Salvador. Sua prática artística tem influência do estudo da filosofia, dos estudos culturais e de um forte interesse pela história e iconografia das mulheres negras. Trabalhando com performance, fotografia, vídeo e instalação, suas obras utilizam a exploração contínua da autoexposição e da subjetividade, numa espécie de jogo entre desejo, voyeurismo e sexualidade. Atualmente é bolsista do Instituto Moreira Salles - Bolsa ZUM 2020.

Mirella Maria

Mirella Maria é artista visual, pesquisadora e educadora. Graduada em Artes Visuais e mestra em Arte Educação pela Universidade Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Atuou como arte educadora e formadora em espaços como Museu Afro Brasil, Sesc, Instituto Adelina, Sparks School (South Africa). Como artista visual, participou da XII Bienal do Mercosul. Atualmente, é Professora de Atendimento Educacional Especializado na Prefeitura Municipal de SP e consultora educacional. Sua pesquisa é voltada para a produção artística contra-hegemônica, alinhando a epistemologias do Sul Global questões étnico-raciais, de gênero e estudos pós-coloniais.

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