Yolanda Penteado – Narrativas da Coleção

→ Ecos do Modernismo – Mulheres na Coleção Ema Klabin

*Imagem: Yolanda em Davos:1947, “Tudo Cor-De-Rosa” – Yolanda Penteado

A série de textos “Ecos do Modernismo – Mulheres na Coleção Ema Klabin” traz como enfoque o papel determinante das mulheres para o fomento das artes na cidade de São Paulo.

Ema Klabin, Jenny Klabin Segall, Miná Klabin Warchavchik e Yolanda Penteado, são algumas das mulheres que atuaram como mecenas e articuladoras culturais, ajudando a disseminar os ideais modernistas e fazendo-os reverberar para além da Semana de Arte Moderna de 1922.

A cada semana, você confere um texto sobre uma personagem marcante na história do Modernismo na cidade de São Paulo.

Yolanda Penteado (1903 – 1983)

Por Felipe Azevêdo

Nascida em 1903, na cidade de Leme, Yolanda Ataliba Nogueira Penteado, foi uma das principais mecenas brasileiras ao longo do século XX. 

Desde jovem conviveu com o cenário artístico e cultural brasileiro. Sua tia Olivia Guedes Penteado foi uma das principais impulsionadoras da arte moderna paulistana nos anos de 1920, ganhando dos artistas da época a alcunha de “Nossa Senhora do Brasil”.

Nesse contexto, Yolanda conheceu Assis Chateaubriand do qual se tornaria amiga importantíssima, e manteve contato com artistas da primeira geração do modernismo paulistano, como Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Guilherme de Almeida e Di Cavalcanti. 

Yolanda pode não ter participado ativamente desse primeiro momento do modernismo de São Paulo, mas por frequentar esses espaços desde jovem, esteve próxima das vanguardas que buscavam uma renovação da arte brasileira.

Por meio de suas relações familiares e de amizade, pode assumir um papel importantíssimo no cenário artístico e cultural de São Paulo. Foi uma das principais contribuidoras para a consolidação do Museu de Arte de São Paulo, fundado por Assis Chateaubriand em 1947. E a fazenda de sua família em Leme, a Empyreo, se converteria em um espaço de intensa convivência, chegando a ser frequentada por personalidades políticas e por diversos artistas. 

Podemos dizer que, de alguma forma, Yolanda deu continuidade à atuação de sua tia Olívia em seu papel de mecenas. Ao se casar com Ciccillo Matarazzo, sua atuação se intensifica: junto a ele fundaria o Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1948, seguido pela realização da 1ª Bienal de Arte de São Paulo (1951), que aconteceu no Pavilhão Belvedere, no terreno que atualmente abriga o MASP, inaugurado em 1968.

Em 1952, com o início dos trâmites para a 2ª Bienal de São Paulo, Yolanda em viagem a Paris se encontrou com o pintor Pablo Picasso, e sugeriu a ele uma exposição retrospectiva que seria o destaque desta edição.

Os trâmites para realização dessa retrospectiva evoluíram por meio de uma série de correspondências e conversas entre Ciccillo Matarazzo, Maria Martins e a equipe responsável por esta produção na França, composta por Daniel-Henry Kahnweiler e Maurice Jadot, que sugere a inclusão da obra central, o painel Guernica, que, no momento, estava sob empréstimo no Museu de Arte Moderna de Nova York.

A 2ª Bienal de São Paulo, que aconteceu em dezembro de 1953, se deu nas comemorações do IV centenário da cidade de São Paulo, no recém-inaugurado Parque Ibirapuera, projetado por Oscar Niemeyer.

Yolanda faria parte da organização das Bienais até a 5ª Bienal, em 1959, que teve como destaque um conjunto de 30 telas de Vincent Van Gogh. Em 1961, ela se separou de Ciccillo Matarazzo e se desligou da Bienal. 

É criada a Fundação Bienal, que se desliga do Museu de Arte Moderna de São Paulo. O acervo do MAM reunido até então, juntamente com as aquisições das primeiras bienais, são doados à Universidade de São Paulo, que cria o Museu de Arte Contemporânea da USP em 1963.

Podemos destacar a convivência que Ema Klabin teve com Yolanda Penteado estando presente no conselho de diversas instituições junto dela, como o MAM-SP e a Fundação Bienal. Um registro bastante interessante dessa convivência está numa carta que Yolanda enviou a Ema nos anos de 1960 que se encontra transcrita abaixo:

Roma, Via pó 28.

De casa, 7 de setembro (década de 1960).

Minha querida Ema, aproveito da viagem de um amigo — Giacinto Micales (penso que você o terá conhecido em casa de Nenê e Fifi), para lhe enviar meu abraço saudoso e essa fotografia de um Tiziano autêntico que pertence a uma grande família inglesa, que vive em Londres — que como está escrito atrás da fotografia — existe toda a documentação das passagens de propriedade deste retrato — Lavínia: é a filha do Tiziano. É uma maravilha. Ele te manda a foto em branco e preto porque só tem uma em cores. Cupolloni é o maior restaurador daqui: o que fez o restauro da Sistina, da Galleria do Cortona na nossa embaixada na Piazza Navona – enfim o número 1 daqui. Ele me está restaurando dois quadros que espero você os verá um dia no meu futuro apartamento. Pensei em você Ema vendo este Tiziano. Cupolloni até o fim de setembro o tem entregue para tratá-lo e vendê-lo. E o quadro regularmente pode sair da Itália porque de propriedade de estrangeiros. Cupolloni escreveu seu endereço e telefone – assim você pode diretamente pôr-se em contato com ele. Não seria o caso que você pegasse um avião para vê-lo? Pensa: o nosso Brasil com um Tiziano !!! Como vai Mimi? E vocês todos? Vos abraços a todos — queridos — esperando muito poder vos rever no próximo ano.

A carta transcrita reforça a atuação de Yolanda não só como figura chave na aquisição de peças para as instituições que ela esteve envolvida, como também o quanto ela aconselhava e criava pontes para que colecionadores privados adquirissem obras de relevância. Ema não adquiriu a obra recomendada por desconfiar de sua autenticidade, mas podemos deixar a indagação:  quantas das muitas telas que vemos nos museus de São Paulo chegaram por intermédio de Yolanda?

Confira a agenda de publicação dos posts da série Ecos do Modernismo:

  1. Introdução + Ema Klabin (14/4)
  2. Jenny Klabin Segal (21/4)
  3. Miná Klabin Warchachik (28/4)
  4. Yolanda Penteado (5/5)


Bibliografia
:

MANTOAN, Marcos José, “Yolanda Penteado: Gestão Dedicada à Arte Moderna”, Tese (doutorado) Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais – Escola de Comunicação e Artes/Univversidade de São Paulo, 2015.

YOLANDA Penteado. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa410456/yolanda-penteado

→ Claudia indicou 7 leituras para entender um pouco mais sobre a mulher no samba e na religião, que você pode ver clicando aqui.

→ Daniel Bernardinelli, que participou do Tramas Culturais | Mulheres do Samba e do Axé fez um relato emocionante sobre os encontros, e você pode lê-lo clicando aqui.

+ do blog:

#CasaMuseuConversas – Entrevista com Lucas Bonetti

Como contribuo com a campanha Dez receitas de Ema Klabin?

Miná Klabin | Narrativas da Coleção

Felipe Azevêdo

É educador da Fundação Ema Klabin desde 2013 e graduado em História pela Universidade de São Paulo. Fascinado por mobiliário, arquitetura e por observar a cidade (de preferência andando a pé ou de transporte público).