Grafite

Fragmentos
Retrospectiva Backdrop Grafite

Em maio de 2014 acontecia a primeira edição do Backdrop Grafite, na Casa-museu Ema Klabin. A proposta era convidar diferentes artistas para que cada um realizasse um trabalho autoral no painel utilizado como fundo de palco dos espetáculos musicais.

 

Ao público, sempre foi possível assistir ao processo da obra e, alguns artistas, faziam também um Arte-papo sobre o trabalho, no qual eles partilhavam seus conhecimentos e processo criativo, além de tirar dúvidas dos participantes.

Atualmente, com uma edição por semestre, o projeto passou por algumas modificações em sua estrutura. Por isso, surgiu a vontade de produzir uma exposição com a retrospectiva dos trabalhos realizados. Como as pinturas eram feitas sobre tecido, alguns fragmentos foram retirados e são as obras desta exposição.

Para Renê Foch, responsável pela curadoria da série, o Brasil é um dos maiores centros do grafite. “Grandes artistas urbanos brasileiros são referência no mundo. O grafite como arte em si, para mim, é o maior expoente de arte contemporânea que existe atualmente” explica. De acordo com ele, a ideia principal do projeto é a de trazer uma arte que geralmente acontece nas ruas para dentro da instituição: “Com isso, eu espero que as pessoas que veem os trabalhos aqui dentro percebam eles nas ruas como obras de arte a céu aberto”.

 

Tché

Com 14 edições, a série teve início com o artista Tché (Marcelo Ruggi), que além de ter sido o primeiro a participar, foi responsável por indicar vários artistas de peso para o projeto.

Em entrevista para a Casa-museu Ema Klabin, Tché conta sobre as diferenças do grafite em um espaço cultural como a Casa-museu “O Grafite é por natureza das ruas, nasceu e permanece lá. O que fazemos é transportar um pouco das técnicas que utilizamos nas ruas.  A vivência de se fazer uma pintura na rua, sendo ilegal ou sem autorização, contando com as intempéries da cidade, do tempo, das inconstâncias das pessoas repugnarem ou adorarem o que estamos fazendo, é extremamente diferente de se pintar num espaço fechado, onde as pessoas já estão aguardando ansiosamente para ver essa espécie de espetáculo”.

Tché diz que sua história com o grafite começou na escola. Chamava sua atenção ver as paredes do banheiro com tags (assinatura do grafite), então começou a desenhar nas carteiras da sala de aula. Em 1999, ele se mudou para a baixada santista, onde seus desenhos deixaram a escola e foram para as ruas.

De volta a São Paulo em 2005, desde 2008 promove exposições e eventos de arte mensais, contribuindo para o movimento do grafite. Para ele, o cenário teve avanços positivos desde que adentrou nesse universo: “Hoje está mais aceito, as pessoas entendem mais, gostam e veem a importância da arte na sociedade e no tempo em que vivemos, de tanta alienação. Isso é ótimo, mas ainda temos muito caminho pela frente e nossa batalha é para a vida inteira”, conclui.

 

KOT

Quase três anos depois da estreia do Backdrop Graffiti, em março de 2017, Karina Toledo (KOT) participou da oitava edição. KOT era impactada pelos grafites da zona sul de São Paulo desde criança. Em seu caderno, desenhava cópias dos murais que via no caminho para a escola.

Trabalhou com pinturas indoor, mas foi em 2012, quando foi convidada para um evento de grafite, que ela se apaixonou pela técnica e pela união dos artistas de rua e não parou mais: “A arte urbana, seja ela na rua ou em espaços culturais, abre portas não só para as pessoas conhecerem e se identificarem com a arte, mas também empodera e mostra que é possível sim viver do que você ama fazer, assim como a KOT criança foi instigada pelos muros pra seguir desenhando e construir uma profissão dessa paixão, muitos outros artistas surgem da disseminação da arte urbana”, revela a artista.

Apesar de amar o que faz, KOT aponta as dificuldades “Viver como artista significa, para mim, ser um polvo, ter oito braços e sempre buscar oportunidades em áreas diferentes. É realmente difícil viver da profissão, muitas pessoas glamorizam o “ser artista”, mas a realidade é que você precisa se destacar em várias áreas para conseguir viver disto”.

Para ela, outro desafio é ser subestimada por ser mulher. Por isso, acredita que um dos caminhos para minimizar o problema é abrir as portas para mais mulheres. Karina já ministrou aulas de street art só para mulheres e, atualmente, produz e faz parte da curadoria do Octopussy, evento que exalta trabalhos artísticos e manuais de mulheres.

→ A exposição presencial da série Backdrop Grafite, teria início dia 14 de março, mas foi adiada por conta das medidas de prevenção do Coronavírus (COVID-19).  Uma nova data será definida assim que a situação for normalizada e as informações serão atualizadas através do nosso site e redes sociais, que seguem ativos.

→ Enquanto isso, você pode conferir a exposição online aqui. Além das edições de Tché e KOT, lá estão expostos os trabalhos das 12 edições que ocorreram de 2014 a 2018, com os artistas Enivo, Jerry Batista, Luiz Alexandre Lobot, Bieto, Rafael Hayashi, Mag Magrela, Lanó e Katia Suzue.

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