Imagem: Johann Jacob Steinmann e Frédéric Salathé (gravador). Bota Fogo. Rio de Janeiro, 1834. Água-tinta colorida à mão, 23 x 30 cm. Coleção Ema Klabin.
Tema anual: Novo mundo: identidades e territórios
2024
Imagem: Johann Jacob Steinmann e Frédéric Salathé (gravador). Bota Fogo. Rio de Janeiro, 1834. Água-tinta colorida à mão, 23 x 30 cm. Coleção Ema Klabin.
O núcleo final da exposição A palavra impressa, 1492-1671: livros raros da Biblioteca Ema Klabin, que apresentou os primeiros relatos de viajantes sobre o continente americano, suscitou, em nossa equipe e no público visitante, um grande questionamento sobre o quanto esse olhar eurocêntrico e colonizador ainda tem influência sobre a nossa própria autoimagem. A partir dessa realização, e levando em conta todo o esforço que tem sido feito em anos recentes, pelas mais diversas instituições museológicas e culturais, em se chegar a novas narrativas pós-coloniais ou decoloniais, decidimos abordar a questão em nossa programação de 2024.
O continente, que também poderia ter adotado outros nomes mais apropriados como Abya Yala, Pindorama ou Pachamama, sempre foi visto de forma dicotômica: ora um paraíso terrestre de recursos naturais inesgotáveis, ora um lugar selvagem habitado por povos atrasados e incultos. A partir de meados do século XIX, essa visão começou a evoluir para uma separação entre a América Latina, de nações sempre instáveis, subdesenvolvidas e mestiças, em oposição aos Estados Unidos da América, ‘branco’, ‘progressista’ e ‘defensor da democracia’ que, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, despontou com o ‘verdadeiro’ Novo Mundo, capaz até de salvar a Europa das ameaças totalitárias ou comunistas.
Ema Klabin, por sua formação europeia e dentro do espírito do período em que viveu, também refletiu essa visão em sua coleção e biblioteca, reunindo uma coleção significativa de relatos de viajantes, peças arqueológicas das civilizações pré-colombianas de regiões do Peru e México e peças do barroco brasileiro – estas últimas, apenas após grandes intelectuais franceses, como Germain Bazin, as reconhecerem como expressões artísticas autônomas e originais. Em 2024, promoveremos um estudo mais aprofundado desses núcleos, destacando também as grandes ausências da coleção, como a arte dos povos originários do Brasil e a arte moderna estadunidense.
No começo do ano, junto a uma reedição ampliada da publicação A casa da rua Portugal (2014), criaremos um percurso introdutório à visitação da casa, contendo dados relevantes sobre sua construção, bem como destacando a biografia de Ema Klabin e a história da formação de sua coleção.
Ainda no primeiro semestre, realizaremos uma exposição das litografias do álbum Souvenirs de Rio de Janeiro, do suíço Johann Jacob Steinmann, que registrou a cidade a pedido de D. Pedro I. A exposição conterá também registros da mesma cidade por artistas brasileiros contemporâneos – ainda a serem definidos – e terá o título Rio de Janeiro, XIX -XXI.
No segundo semestre, o destaque da programação será uma exposição dedicada às peças de Arte Pré-Colombiana da coleção, também incluindo algumas peças da Casa Museu Eva Klabin, da Coleção Ivani e Jorge Yunes, e do MAE – Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
Além disso, pretendemos retomar os programas de arte contemporânea Hóspede e Jardim Imaginário, com curadoria de Gilberto Mariotti, além de realizar uma segunda edição da mostra CinEma em parceria com o Museu Lasar Segall, desta vez voltada ao cinema independente das Américas.