Rio de Janeiro, XIX – XXI

sáb, 11 mai até 11 ago
visitação a partir das 11h
inauguração oficial às 14h

Souvenirs de Rio de Janeiro. Jacob Steinmann, 1836
Série Disse-me-disse. PV Dias, 2024

curadoria de Paulo de Freitas Costa e Janaina Damaceno, com curadoria adjunta de Ana Paula Rocha

gratuito com sugestão de contribuição voluntária

*Imagem: Obras Vista da Nossa Senhora da Glória e barra do Rio de Janeiro (1836), de Johann Jacob Steinmann, e Ajuda (2024), de PV Dias.

No âmbito da temática anual Novo Mundo: territórios e narrativas, a Casa Museu Ema Klabin realiza, a partir de 11 de maio, a exposição Rio de Janeiro, XIX – XXI, que apresenta as 12 gravuras que compõem o álbum Souvenirs de Rio de Janeiro, produzido pelo suíço Johann Jacob Steinmann em 1836, junto à série Disse-me-disse, especialmente criada pelo artista PV Dias a partir das gravuras de Steinmann e de Johann Moritz Rugendas.

 

Após dois séculos, nossa imagem da paisagem carioca pode ser reavaliada? Como ir além da tradição e registrar nossa realidade e nossa identidade de outra forma? Como podemos nos representar de uma forma mais justa? Essas são questões que estão por trás do trabalho dos curadores Paulo de Freitas Costa e Janaína Damaceno e da curadora adjunta Ana Paula Rocha para esta mostra e que instigam a série de PV Dias.

O álbum de Steinmann

Em 1825, logo após a Independência do país, o jovem artista suíço Johann Jacob Steinmann (1800-1844) foi convidado pelo governo brasileiro a dirigir a recém-criada escola de impressão da Academia Militar. Steinmann permaneceu nessa função por cinco anos, antes de abrir sua própria oficina litográfica, destinada primordialmente a produzir gravuras criadas a partir de seus registros da paisagem brasileira, bem como de outros artistas. Após retornar à Europa, em 1833, publicou, com grande sucesso, a primeira edição do álbum Souvenirs de Rio de Janeiro dessinés d’aprés nature & publiés par J. Steinmann, contendo 12 gravuras em água-tinta executadas por Friederich Salathé com base em nove desenhos de Steinmann e em registros dos pintores Eduard de Kretzschmar e Victor Barral.

Souvenirs de Rio de Janeiro foi um dos primeiros conjuntos de gravuras sobre a cidade publicados na Europa após a Independência do país, trazendo uma visão europeia da cidade e regiões próximas, com paisagens “apaziguadas” que promovem a exuberância da paisagem natural sem revelar suas tensões e conflitos, dentro de uma tradição que remonta ao trabalho de Frans Post e Gaspar Barléu, bem como dos artistas da Missão Artística Francesa.

“Talvez mais reveladora que as paisagens seja a moldura aplicada às gravuras, baseada em gravuras de Rugendas e elaborada por Steinmann, em que indígenas e escravizados são representados de forma indistinta, como parte integrante de uma natureza exuberante”, afirma Paulo Costa.

As gravuras do álbum que pertence à Coleção Ema Klabin foram restauradas e serão exibidas ao público pela primeira vez.

Disse-me-disse

Com curadoria de Janaina Damaceno, Coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF/UERJ), o artista PV Dias produziu uma série inédita a partir de 7 obras do álbum de Steinmann e de 3 gravuras de Rugendas nas quais inseriu figuras contemporâneas tanto nas paisagens quanto nas molduras, evidenciando as questões propostas por esta exposição. Suas obras estarão expostas lado a lado com as gravuras de Steinmann, bem como em outros ambientes da casa museu, dialogando com as obras Rio de Janeiro, de Tarsila do Amaral, Vista de Olinda e Igreja de São Cosme e Damião, de Frans Post e Retrato feminino, de Emiliano Di Cavalcanti.

“Como Denilson Baniwa e Silvana Mendes, para citar apenas dois dos mais importantes artistas deste movimento, PV Dias vem fabricando rasuras decoloniais em imagens históricas do Brasil, questionando noções de pertença e territorialidade que ajudaram a produzir a ideia de um país racialmente democrático. Com seus pequenos gigantes que sussurram para os personagens das gravuras de Steinmann e Rugendas, ele abre uma fenda temporal em que o segredo e a (con)fabulação surgem como personagens principais”, diz Janaina Damaceno.

A exposição Rio de Janeiro, XIX – XXI integra o projeto Casa Museu Ema Klabin Digital 2024, contemplado pelo Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais – PROMAC, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e conta com o patrocínio da Marsh McLennan. A casa museu conta ainda com apoio da Klabin S. A.

PV Dias

Formado em Comunicação Social e mestre em Ciências Sociais na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com formação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Sua pesquisa se concentra na análise da estruturação das imagens de um território e nas suas possíveis rupturas. A partir de diversas práticas, incluindo pintura, fotografia, vídeo e arte digital, seu trabalho aborda a mediação visual de paisagens sonoras. Natural de Belém do Pará, atualmente reside no Rio de Janeiro.

Janaina Damaceno

Graduada em Filosofia, mestra em Educação pela Unicamp e doutora em Antropologia pela USP. É professora adjunta da UERJ e do Programa de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da UFF, onde coordena o Grupo de pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. Foi mentora da Residência Artística Laboratório de Imagens, uma parceria entre o Observatório de Favelas e o Instituto Moreira Salles, e uma das fundadoras do Fórum Itinerante de Cinema Negro (FICINE).

Paulo de Freitas Costa

Arquiteto e mestre em Artes pela USP. Em 2000 foi selecionado pela Lampadia Foundation para programa de um ano de pesquisa na National Gallery de Washington D.C. Atua como curador da Casa Museu Ema Klabin desde 2001 e atualmente coordena o Encontro Brasileiro de Palácios, Museus-Casas e Casas Históricas. Publicou os livros Sinfonia de objetos (Ed. Iluminuras, 2007), A Casa da Rua Portugal (FEGK, 2014), A Coleção Ema Klabin (org., FEGK, 2017) e Porcelana europeia na Coleção Ema Klabin (FEGK, 2018).

Ana Paula Rocha

Museóloga pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, mestre (Faperj Nota 10 e CNPq) e doutoranda (financiamento CAPES) pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, onde integra o Urbano - Laboratório de Estudos da Cidade. Atua como coordenadora técnica no Sesc RJ em projetos com ênfase em acervos e artes visuais. Tem experiência com gestão de projetos expositivos e acervos, curadoria independente e docência. Idealizadora da plataforma de arte e pensamento, INTRUSA (@intrusacultura).

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