Imaginário Simbólico na Cultura Asiática

Imaginário Simbólico na Cultura Asiática

→ Narrativas da Coleção

Detalhe – Lacquer Paintings of Various Subjects- Peonies, Shibata Zeshin (Japanese, 1807–1891).

Narrativas da Coleção ” Imaginário Simbólico na Cultura Asiática” convida o público a mergulhar nas minúcias de obras da Coleção Asiática da Casa Museu Ema Klabin e descobrir nos detalhes a representação das flores e suas simbologias.

Na cultura asiática as flores são representadas não apenas por seus atributos de beleza e sensibilidade, mas também por sua simbologia, muitas vezes associadas a diversos mitos e contos que atravessam gerações.

Nesse texto, escrito para o Blog, convidamos o público a mergulhar nos detalhes de obras que enfocam as flores, suas simbologias e os contos a elas associadas, e voltar desse mergulho trazendo conhecimentos sobre a cultura asiática.

Você também pode ouvir a narração dos contos asiáticos na pagina do Instagram
https://www.instagram.com/emaklabin/

Detalhe Cerejeira, Gravura Ukiyo-e “Capitão General Minamoto Yoritomo e a Princesa Tamaori”, Utagawa Kunisada, Japão, Séc. XIX c. 1844. Foto de Henrique Luz.

Narrativas da Coleção:  Imaginário Simbólico na Cultura Asiática 

A arte tradicional chinesa estrutura-se a partir da contemplação da natureza, da qual o homem faz parte em completa integração, que se reflete em seus contos e mitos tradicionais. O fazer artístico é uma maneira de contemplar, refletir e compreender a vida e a existência humana. A observação da beleza e poesia das flores nos levará a nos aproximarmos dessas culturas e descobrir seus significados simbólicos.

Neste Biombo chinês, do século XVIII, encontramos várias flores de ameixeira, que também estão presentes no Pote de Gengibre, do século XX. 

Pote para Gengibre, autor desconhecido, China, Sec. XX, foto de Felipe Azevêdo

As flores de ameixeira, em uma peça chinesa, são muito mais do que um mero elemento decorativo. Representam a primavera e suas pétalas são consideradas as “Cinco Bênçãos Chinesas” que todos almejam: vida longa, fortuna, amor virtuoso, saúde e morte natural. Representam também a renovação e juventude, pois às vezes florescem ainda no final do inverno, anunciando a nova estação. 

Deusa da Flor de Ameixa

Certo dia, na primeira lua de janeiro, a Princesa Shouyang, adormeceu debaixo de uma ameixeira e uma flor repousou em sua testa, deixando-a marcada com a cor rosa de suas cinco pétalas.

Quando as damas da corte do palácio a viram, perceberam que a princesa tinha ficado ainda mais bela. A partir de então, todas passaram a usar essa “Maquiagem da Ameixa de Inverno”. Após a sua morte, atribuíram à princesa a encarnação do espírito da flor, e ela passou a ser adorada como a Deusa da Flor de Ameixa. 

Gravura Ukiyo-e “Capitão General Minamoto Yoritomo e a Princesa Tamaori”, Utagawa Kunisada, Japão, Séc. XIX c. 1844. Foto de Henrique Luz.

Na xilogravura japonesa ukiyo-e, “Capitão General Minamoto Yoritomo e a Princesa Tamaori”,  identificamos peônias adornando a roupa do capitão.

Detalhe Peônias, “Gravura Ukiyo-e “Capitão General Minamoto Yoritomo e a Princesa Tamaori”, Utagawa Kunisada, Japão, Séc. XIX c. 1844. Foto de Henrique Luz.

No Japão, essas flores simbolizam sorte, felicidade, fortuna e prosperidade. Na China, representam riqueza e honra e muitas vezes são acompanhadas de caracteres que dizem “beleza nacional e fragrância celestial”. Elas estão também nos detalhes destas duas túnicas chinesas do séc. XX. 

“Túnica I”, autor desconhecido, China, Séc. XX. Foto de Erick Diniz.
“Túnica I”, Detalhe flores da Manga (vestuário), autor desconhecido, China, Séc. XX. Foto de Erick Diniz.
Túnica II Sec XX - Detalhe flores (vestuário). Foto de Erick Diniz.
“Túnica II”, Detalhe flores (vestuário) autor desconhecido, China, Séc. XX. Foto de Erick Diniz.

O Poder da Flor da Idade de Ouro

Certa vez, a imperatriz Wu, da Dinastia Tang, ordenou que todas as flores em seu jardim real fossem obrigadas a florescer no inverno. Com medo de seu poder, todas floresceram, exceto uma: a peônia. Enfurecida, a imperatriz Wu baniu as peônias da capital. Todas foram levadas a uma outra cidade distante, e lá floresceram lindamente, aumentando a ira da imperatriz, que ordenou que todas fossem queimadas. Mesmo com esse ato cruel, na primavera seguinte, as peônias ressurgiram na cor negra. 

Nesta gravura japonesa temos ainda, escondida nos detalhes, uma outra flor. A flor de cerejeira.

Detalhe Cerejeira, Gravura Ukiyo-e “Capitão General Minamoto Yoritomo e a Princesa Tamaori”, Utagawa Kunisada, Japão, Séc. XIX c. 1844. Foto de Henrique Luz.

Sakura e a árvore que nunca florescia

Há centenas de anos, em um incrível bosque, repleto de árvores floridas, havia uma que nunca florescia. Um dia, uma ninfa celestial aproximou-se da pobre árvore, prometendo ajudá-la. Lançou um feitiço que a transformou em um homem, para experienciar as mais belas emoções e conseguir – quem sabe – florescer. No entanto, o encanto duraria vinte anos e, se não conseguisse florescer nesse período, morreria para sempre.

A árvore passou a existir ora como árvore, ora como homem, interagindo com as pessoas da cidade. Os dias e anos foram passando e seu prazo já estava perto de se esgotar sem que as experiências vividas pelo homem-árvore pudessem fazê-lo florescer.

Finalmente, conheceu uma jovem chamada Sakura, dando início a uma linda amizade. O jovem apaixonou-se e não podendo mais esperar, confessou seu amor e contou-lhe toda a sua história. Atordoada com a revelação, Sakura permaneceu em silêncio.

O jovem retomou sua condição de árvore e triste, sem flor, aguardava seu destino. Foi então que Sakura apareceu no bosque de surpresa, abraçou emocionada a árvore e confessou seu amor dizendo que não aguentaria sua morte. 

Nesse momento, a ninfa celestial reapareceu. Disse que o amor entre ambos seria possível somente se Sakura se unisse a ele em forma de árvore. A decisão foi tomada e o milagre aconteceu: transformaram-se em uma única árvore, que finalmente floresceu. Recebeu o nome de ”árvore de Sakura” ou “cerejeira em flor” – a mais bela da floresta, exalando seu perfume na primavera. 

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Rosi Ludwig

Rosi Ludwig é educadora do Educativo Ema Klabin, graduada em Educação Artística e pós graduada em Arte na Educação: Teoria e Prática. Atua em educativos de museus desde 2006. Acredita na magia do encontro, na potência da escuta e nas diversas relações de conhecimento.

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