NOVA MÚSICA | Duo Bailado | Sábado, 24/09 às 16h30
Foto: Gal Oppido
A motivação de produzir uma música instrumental brasileira em que o gingado e o movimento das danças urbanas do início do século passado fossem a linha mestra, fez com que Daniel Grajew (Piano) e Marcos Paiva (Contrabaixo) se unissem para lançar o disco Bailado. São lundus, maxixes e polcas que sintetizam o encontro do aristocrático com o popular, entre os sons da Europa e da África.
Hoje, em 2016, na complexidade de um mundo carregado de informações e influências, Marcos e Daniel repetem o mesmo gesto antropofágico dos chamados “pianeiros” (como eram conhecidos os pianistas populares do final do século XIX e início do século XX): acreditam que um olhar se constrói no presente, mas permeado pelas raízes de nossa cultura e pelos ecos do ambiente musical global. Por meio de uma inventividade rítmica e melódica, o duo busca traduzir uma característica marcante do povo brasileiro: a constante capacidade de se reinventar.
Marcos Paiva criou uma nova forma de conduzir o instrumento, usando a escola do violão de 7 cordas (as baixarias) de maneira pouco usual. Essas contramelodias – nascidas no início do século XX e sistematizadas pelo genial Pixinguinha em gravações ao lado do flautista Benedito Lacerda – formam a artéria central que se ramifica nas várias maneiras que o contrabaixista usa para acompanhar choros, polcas e outras ideias musicais. Seu contrabaixo tece com o piano uma engenhosa trama.
Já Daniel Grajew mergulha na linguagem dos “pianeiros” para propor novas tonalidades à tradição. Nesse processo, usa pinceladas impressionistas de Debussy e o colorido do jazz para harmonizar os requebros e gingados. A imaginação de Villa-Lobos e a ambiência do Clube da Esquina inspiram uma nova maneira de visitar o corta-jaca de Chiquinha Gonzaga e o tango de Ernesto Nazareth.
Por fim, a teia musical construída neste CD traz a união do primeiro respiro musical brasileiro urbano (presente no suingue) com a escola do piano erudito (revelado nas interpretações e no aprofundamento harmônico das composições) e o jazz (com seus espaços dilatados e sua liberdade na improvisação). Aqui, a sala de concerto é o meio da rua.